O que fazemos

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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A Ardua Tarefa.

É estranho que esse esforço de desencarnação a serviço de uma historia imaginada tenha uma analogia maravilhosa com os que buscam os místicos,com esse vazio a que tende aqueles que aspiram ser invadidos por Deus.Há no trabalho do ator um não sei o quê que me assusta: talvez esse contraste entre o fim perseguido que não passa de um jogo (por mais brilhante que seja) e a grave operação de ordem espiritual que realiza-se no recôndito de seu ser- tão grave;que sua fadiga,sua lassidão ao termino tem um caráter singular:sente-se que tocaram a raiz, a origem;hesitam,recém chegados ao mundo real.Vemos fecharem os olhos por um instante no fundo de uma camarim tenebroso como se a parte de se mesmos que deixaram antes da representação tivesse perdido a rota e não pudesse reencontrá-los. Mais do que os outros homens,eles devem ter necessidade de reencontrar a vida perto de uma criatura de carne e de sangue, e como Anteu tocava a terra, de inclina-se sem cessar sobre uma argila viva.
Magnífico e perigoso o oficio que consiste em perder-se, e depois reencontrar-se... Mas entre os dois estados,alguns dentre eles vivem em um outro, a despeito de si mesmo,talvez.Muitos não duvidam que,assumindo o fim derisório que os autores lhes propõem,aconteça-lhes passar muito perto de um terrível umbral que só os santos cruzaram.